domingo, 2 de maio de 2010

Democracia e liberdade!

Ouvimos sempre alguém dizer que vivemos em um país democrático, onde as pessoas tem liberdade e podem expressar o que pensam. Mas, de fato, o que vem a ser a democracia e o que é ter liberdade?

Na Grécia Antiga, berço da cultura ocidental, criou-se a ideia de democracia. Lá, todos os cidadãos tinham o direito de participar ativamente da vida política das cidades-estados. Para isso, cada indivíduo grego recebia uma educação fundamentada na filosofia, na retórica, na poesia e na política. Os valores que formavam o pensamento humano eram o principal ponto de atenção dos mestres e educadores. Procurava-se estimular o pensamento. Cada indivíduo era educado para ser um governante, a pensar nos problemas diversos da cidade-estado e a posicionar-se quanto a esses problemas. Eram preparados para defender suas ideias através de discursos que falassem para o lado racional e emocional das pessoas e, dessa forma, conseguir o maior número de defensores para a causa que sustentava. Observe-se com muita atenção que cada cidadão exercia diretamente o seu direito político, a sua vontade. Lógico que sempre houve um ou outro que se destacava e, por isso, conseguia arregimentar o maior número de adeptos para suas causas, mas não se alijava nenhum cidadão do processo decisório. Note-se, portanto, que a ideia de democracia fundada na Grécia tem como respaldo o fato de que se deve preparar o indivíduo para exercer e assumir o seu papel dentro da vida política da cidade.

Com a formação dos Estados Modernos, o aumento das fronteiras e do número de habitantes tornaram-se um obstáculo cada vez maior ao exercício da atividade política direta pelos indivíduos. Destarte, criou-se um sistema de representação política para expressar a vontade da população e tornar possível a organização do Estado e de seus orgãos. A vontade do povo passou a ser, teoricamente, defendida por seus representantes políticos. Tem-se, assim, a democracia realizada de forma indireta. Já não mais é possível ouvir em um lugar só a todos os que tem algo para falar sobre como devem ser geridos os assuntos da pátria. Dessa forma, perde-se o interesse em oferecer aos indivíduos uma educação que o torne apto  ao exercício do pensar e de expressar esse pensamento de forma sistemática e consistente. Deixou-se de preparar os sujeitos para serem governantes de seu país e começou um treinamento para que estes sejam governados. Em síntese, a democracia começou como forma de garantir a todos os cidadãos participarem do processo decisório e de governo de sua nação e culminou nos dias atuais em uma forma de mascarar os desmandos de pequenos grupos.

Mas até agora não falamos em liberdade. A democracia ocupou-nos um bom espaço, mas a liberdade é o centro gravitacional de tudo isso. Não se pense que liberdade é tão simplesmente fazer o que se quer, quando bem entender, sem ter que prestar satisfações dos atos e palavras. Muito pelo contrário. É inerente à liberdade  a responsabilidade e a consciência de tudo o que se faz. Liberdade implica em saber escolher o que se quer assumindo todos os desdobramentos provenientes de tal escolha, sabendo dos benefícios e dos malefícios que serão provocados a partir da ação ou da fala. Dito isto, podemos apontar para o centro do que se chama liberdade: a escolha. Liberdade implica em escolher, e escolhe bem que escolhe com consciência. Para escolher é preciso antes conhecer. Conhecer significa que você é capaz de apontar as qualidades e os limites do que está escolhendo, que é capaz de comparar e dizer o que seria mais benéfico, que é capaz de entender o que significa. Daí porque a educação tem um papel primordial na busca por ser livre. Por esse motivo os gregos recebiam educação voltada para a formação humanística, desenvolvendo a capaciade de pensar e, portanto, de escolher.

A democracia e a liberdade andam pari passu, uma junto com a outra. Voltemos agora ao início: será que vivemos em um país democrático, onde as pessoas tem liberdade? Antes de responder, vamos observar o nosso sistema educacional e nos perguntar sobre qual tem sido sua função. Em nossas escolas estamos formando pensadores capazes de atuar ativamente na vida política e na sociedade como gestores e governadores ou estamos formando indivíduos repetidores de fórmulas e pensamentos alheios, sem reflexão,  para serem governados e obedecerem as determinações de um pequeno grupo?
Edmario Nascimento da Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário