sábado, 28 de agosto de 2010

O trabalho humano e a produção de riqueza

De fato, somente o ser humano é capaz de transformar a natureza de forma a satisfazer suas necessidades, sejam elas reais ou criadas, frutos de necessidades biológicas ou psicológicas. O caminho para tal satisfação é o trabalho. Este gera todas os bens necessários para garantir a existência do ser humano e cria condições (ou não)  para que ele possa ultrapassar sua existência material e mergulhar em um mundo "invisível".

O trabalho é a condição fundamental para a existência da sociedade humana.
(Ainda volto para terminar)

As metrópoles

O desenvolvimento das cidades, devido ao seu crescimento econômico e expansão urbana, gera o fenômeno das metrópoles. Esse fenômeno ocorre porque há uma integração de cidades em torno de uma área econômica de grande influência, sendo, portanto, o fator econômico o principal aspecto a ser considerado no que diz respeito à análise do espaço geográfico de uma metrópole. Ao processo de integração espacial das cidades que forma uma metrópole dá-se o nome de conurbação.



A vida em uma metrópole apresenta características diversas e conflitantes. Convivem nesse mesmo espaço a oportunidade e a exclusão, o desenvolvimento e a miséria, o lazer e a violência, a tecnologia e o atraso, riqueza e pobreza... Há, portanto, um universo paralelo coexistindo com toda a exuberância das metrópoles. Todas elas apresentam problemas que são comuns aos grandes centros: criminalidade, violência, excesso de lixo, poluição de todos os tipos, desigualdade, desemprego, trânsito...

No Brasil, o fenômeno da metropolização concentra-se em torno das capitais, uma vez que são os pontos do espaço geográfico que apresentam maior desenvolvimento. Contudo, nem todas as capitais atingiram o status de metrópoles. Isso porque há regiões que não estão totalmente integradas a economia do país, refletindo-se em seu baixo desenvolvimento.

De fato, a maior metrópole brasileira é São Paulo. Essa concentra o maior desenvolvimento econômico do país. Por lá transitam os fluxos da globalização (processo atual de expansão capitalista sobre o espaço geográfico), arrastando consigo elementos da cultura de diversos países, inovações tecnológicas, pesquisas científicas etc.

Podemos concluir que a metropolização de uma região culmina com um forte impacto sobre o espaço, exigindo dos recursos naturais disponíveis - a água, por exemplo - para além de sua capacidade. Traz também impactos sociais, políticos e implicações culturais. A gestão de uma metrópole não é fácil! Poderíamos pensar que a metropolização é um processo de desorganização do espaço que tem como resultado a acentuada aglomeração humana e a intensificação dos impactos da ação antrópica.

Enfim, as metrópoles parecem juntar sonhos e pesadelos em um mesmo espaço. E que viva o desenvolvimento econômico!!!

Edmario Nascimento da Silva

AS CIDADES - A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

A cidade é o resultado da diversificação das atividades econômicas e do aperfeiçoamento do trabalho do campo, que possibilitou a liberação do trabalho humano para outras atividades não ligadas diretamente a sobrevivência. Ao elaborar técnicas de cultivo que permitiram produzir mais alimentos empregando número menor de mão de obra, parte da população do campo ficou liberada para desenvolver outros ramos do conhecimento humano e executar novas tarefas e atividades. Mais tarde, essa população se deslocou do campo e criou a cidade.



A Infraestrutura das cidades é mais complexa. Os principais elementos que a identificam são:



Aglomeração urbana; atividades econômicas diversificadas; atividades religiosas; atividade político-administrativa; debate cultural; as construções são próximas umas das outras; maior número de pessoas; estradas; sistemas de comunicação; meios de transporte variado; centro comercial; centro político-administrativo; centro financeiro; diversidade religiosa; produção e circulação de mercadorias; indústria; comércio; setor de serviços; marketing e propaganda.



Atividade religiosa



A liberação do ser humano da condição de preso ao trabalho com a terra para garantir sua sobrevivência permitiu o estímulo a sua imaginação, abrindo caminho para a procura da divindade ou para criação das divindades, buscando explicações para sua existência e para os fenômenos tidos como fantásticos.



Atividades político-administrativas



Diz respeito às decisões sobre a organização do espaço, o uso dos recursos, a distribuição de direitos e deveres e a própria participação nessas decisões.



Debate cultural



A cultura expressa-se no modo como o ser humano realiza a sua existência material e imaterial. No espaço da cidade, essas formas de expressar a vida entram em conflito gerando discussões sobre valores e escolhas que orientam ou devem orientar o fazer humano.



Conceitualmente, cidade é toda sede de município, independente de aspectos como aglomeração, concentração, função econômica, grau de modificação da paisagem natural etc. As cidades são centros onde os indivíduos podem adquirir ou vender mercadorias e usufruir os serviços de que necessitam.



Município é uma unidade político-administrativa dividida em área rural e urbana. A sede da prefeitura sempre fica na área urbana e, quando esta cresce mais que a zona rural, ocorre urbanização.



A organização do espaço urbano está baseada na divisão do trabalho imposta pelo sistema capitalista, criando desigualdades sociais e econômicas que se refletem na paisagem. O sistema capitalista baseia-se na divisão da sociedade em classes econômicas, com capacidade para consumir bens e serviços, e na separação entre a força de trabalho e a propriedade dos meios de produção. Essa divisão encontra-se refletida na forma como o espaço está organizado, uma vez que a infraestrutura da cidade, principalmente, tende a ser mais complexa nas áreas ocupadas pela classe econômica mais abastada.



As cidades, portanto, são o resultado da organização humana do espaço, da forma como o ser humano produz e distribui sua riqueza, ao passo que realiza a sua existência.

Edmario Nascimento da Silva

sábado, 22 de maio de 2010

Uma lição da história!

Estudando história temos a oportunidade de pensar sobre acontecimentos considerados importantes para a sociedade humana, buscando compreender o significado daquele determinado evento para o nosso momento, nossa vida, estabelecendo relações capazes de nos fazer desconstruir certos discursos e enxergar em profundidade uma série eventos que nos rodeiam.

Um desses acontecimentos foi a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. Esse evento trouxe-nos alguns questionamentos. A doutrina liberal que predominava na economia, defendia com unhas e dentes a não-interferência do Estado nas relações econômicas. A ideia era que o Mercado possuia capacidade autoregulatória, dispensando a presença do Estado para manter equilibradas a economia. Este deveria apenas atuar como regulamentador de situações ligadas a questões sociais. A quebra da Bolsa de Nova Iorque mostrou que o pensamento liberal possuia fragilidades. A crise econômica que se instalou no mundo inteiro a partir desse evento, somente foi solucionada com a atuação do repudiado Estado. Jonh Maynard Keynes propõe, em suas teorias filosóficas econômicas, que o Estado intervenha na economia para garantir a sobrevivência do sistema capitalista, atuando como garantidor e fomentador. Será, portanto, com a interferência do Estado que os capitalistas poderão recuperar seu status quo, arvorando-se como independentes da gestão pública.

O que nos ensinou tal episódio? A lição apresentada na ocasião valeu para todas as demais situações posteriores: mantenha o Estado fora da economia quando está-se obtendo lucros excessivos e, quando se instala uma crise, convoca-o para resolver o problema. Em todas as crises econômicas que se instalaram no mundo ou em alguns países, foi o dinheiro público - cuja destinação deveria teoricamente ser utilizada para o bem estar da população na melhoria das condições de infraestrutura e questões sociais - quem retirou da bancarrota os valores capitalistas e garantiu a sobrevivência do sistema. A crise econômica de 2009, somente foi reesolvida com a interferência do poder público dos gestores estatais. Vislumbre-se que ao falar em crise econômica esquecemos de dizer que ela é uma crise econômica privada, dos empresários e multinacionais, bancos e outras instituições financeiras. A pressão sobre os governos se faz por conta dos efeitos que as crises tem sobre a população, justiticando-se o motivo pelo qual a atuação do Estado na solução do problema acaba por cumprir com uma de suas funções que é a de garantir a ordem e estabilidade da sociedade.

Perceba-se, com isso, que estudar história não é simplesmente repetir os acontecimentos passados, escolhidos por alguns estudiosos para ser destaque em um livro didático. A razão de estudarmos a história mundial, nacional e local é para com ela aprendermos a lições que nos servirão na discussão e construção do futuro. Quem não tem memória acaba cometendo os mesmos erros. A história não é um conjunto de fatos antigos que não interessa a ninguém. É antes um arsenal que prepara o sujeito para atuar com consciência, sabendo porque deve assumir essa ou aquela postura diante dos acontecimentos, fornecendo os argumentos e a capacidade analítica de que precisamos para atuar politicamente e ativamente em nossa sociedade.

Todos podemos aprender com os erros e acertos daqueles que vieram antes de nós e, com isso, encurtar o caminho até a realização do desejo incutido em nosso coração: alcançar a felicidade.
Edmario Nascimento da Silva

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A sociedade e o conflito

Um dos traços marcantes dos seres humanos é o fato de que vive em constante conflito: consigo por algo que fez ou deixou de fazer, por não ser melhor ou por perder oportunidades; conflito com os outros porque não consegue compreender suas ideias ou o que está sendo dito; conflito com a natureza, dado a inclinação para querer domesticar tudo ao seu redor.

O conflito é um fato concreto, real, inerente a espécie humana e de grande importância. A vida em sociedade gera inevitavelmente o conflito. Onde duas ou três pessoas estiverem reunidas, conversando sobre assuntos banais ou de grande relevância, instalar-se-á o conflito. A razão disso reside na capacidade inata de gerarmos ideias e pensamentos distintos dos demais. É uma marca implícita da condição humana.

Muitos entendem que para se viver em sociedade de forma harmônica e em paz é necessário que não haja o conflito. Contudo, esse elemento é vital, essencial e indispensável para a sociedade. A discordância de ideias possibilitou, possibilita e possibilitará que avancemos nas descobertas científicas, nos valores políticos, éticos, morais e estéticos, no desenvolvimento e aperfeiçoamento do espaço geográfico, nas soluções de problemas em comum. O conflito estimula a inteligência. A questão, portanto, não é a ausência do conflito para que possamos viver em uma sociedade unida, harmônica e em paz. O que se faz necessário é aprender a lidar com conflito, buscar nele motivo para superação. Falta para a sociedade a capacidade de dialogar - cuja ausência é muito mais grave.

Fomos educados para entender os momentos de conflito como desagradáveis, indigestos, desnecessários e improdutivos. Aprendemos a mascarar as situações: dizer sim quando deveríamos dizer não, sorrir quando queríamos chorar, aplaudir quando queríamos esbravejar, calar quando queríamos fociferar a plenos pulmões as nossas razões. Nessa sequência, procuramos evitar a todo custo o conflito para não nos sentirmos feridos ou ferir. Sempre que isso nos acontece, perdemos a oportunidade de aprender a gerenciar um momento que é rico de oportunidades: para o aprendizado do diálogo, para o exercício da tolerância, a prática da análise e argumentação, a defesa de posicionamento a partir de ideias, o treino da escuta sensível que torna capaz utilizar as palavras certas para abrir portas e conquistar corações e mentes... e assim, uma série de benfeitorias possíveis de acontecer.

Uma sociedade harmônica não é uma sociedade sem conflitos. Antes, é a expressão de uma sociedade que aprendeu a dialogar a partir dos seus conflitos, aproveitando para ressaltar o melhor e mais útil. Uma sociedade harmônica é aquela que não foge das controvérsias inevitáveis advindas de uma complexidade formada por indivíduos dotados de inteligência e particularidades, mas potencializa aspectos relevantes que tornam salutar a discussão, o debate, a argumentação, a paixão e os sentimentos. A paz tão buscada não irá surgir da ausência de conflitos, mas da capacidade de gerenciá-los.

Portanto, cabe educarmo-nos para vivermos autenticamente em grupo, com todas as situações oriundas dessa condição, não negando a nossa natureza conflitante, posto que isso só ocorre devido ao uso de nosso maior dom: a inteligência. Usemos, então, de inteligência para resolver os enigmas que outras inteligências criam em nosso dia-a-dia sem precisar incorporar o Massaranduba (aquele do Casseta & Planeta).
Edmario Nascimento da Silva

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A vida em sociedade

Viver em sociedade garantiu a espécie humana não só sobreviver mas também possibilitou avanços e desenvolvimento de estruturas complexas e que se aperfeiçoam a medida que novas exigências vão sendo colocadas pelas diversidades e adversidades que a vida em grupo impõem.

Poderíamos elencar vários fatores importantes para uma convivência possível em sociedade, contudo, vamos nos concentrar unicamente em um: o trabalho. É através do trabalho - como já constatamos em outra oportunidade, ao analisar a formação do espaço geográfico - que o ser humano consegue garantir sua sobrevivência, fazendo surgir inúmeras funções e atividades que só se tornaram possível a partir do momento em que a oferta de alimentos tornou-se suficiente e liberou parte da população para atuar em outras áreas de interesse. O trabalho garante a existência material (casa, comida, roupa, transporte...) do indivíduo mas, também garante a sua existência imaterial, psicológica, invisível, imaginária. Uma sociedade será tanto mais complexa quanto mais complexas forem as atividades e funções desempenhadas pelos indivíduos em seu interior.

Quando estamos estudando a organização do espaço geográfico, pode parecer que foi somente quando o ser humano começou a viver em grupo que as atividades destinadas a garantir a sobrevivência passaram a ser organizadas. No entanto, cabe a ressalva de que foi a organização de tais atividades quem organizou a vivência em grupo. Todo o espaço geográfico está organizado em função do trabalho.

A produção de riqueza, o luxo, o ócio, o lazer e todas as beneses de que alguns poucos desfrutam em nossa sociedade somente são possíveis porque existe alguém para trabalhar e pagar por isso. Quando falamos que há desigualdade social, muitas vezes nos escapa o fato de que essa desigualdade não está no fato de, simplesmente, não termos acesso ao bens e serviços, e sim no fato de que não valorizamos quem de fato proporciona a existência desse bens e serviços.

Quando em exercício de raciocínio, imaginamos quais os elementos indispensáveis para a vida em sociedade, enumeramos sentimentos e valores como o amor, a compreensão, o respeito, o diálogo, a paz, o perdão...etc, deixamos de observar que tudo isso só será possível se, e somente se, houver o reconhecimento devido de que tudo deriva do trabalho.

Nossa sociedade construiu-se sobre um lema: O trabalho dignifica o homem. Contudo, diante da forma como os trabalhadores são expropriados de sua dignidade no cotidiano, seria melhor fazermos uma correção na frase: O trabalho DANIFICA o homem. Assim sendo, procuremos analisar em nosso dia a dia qual o papel que cada um desempenha na construção desse clube que chamamos de sociedade.
Edmario Nascimento da Silva

terça-feira, 4 de maio de 2010

Afinal, que bicho é esse?

Não! Não vamos falar aqui de uma espécie exótica qualquer. Trata-se de um espécime complexo, de difícil convivência, com muitas artimanhas, capaz de enganar os ingênuos. Parece dócil mas é muito perigoso. Muito cuidado ao lidar com ele pois sua mordida é mortal.

Estamos falando do Estado! Entender o que é e como funciona essa entidade fantástica e ficcional não é tarefa simples. Requer atenção a muitas entrelinhas, muita leitura e reflexão e uma observação aguda. Historicamente, surgiu ainda no período da antiguidade clássica a partir do desenvolvimento da agricultura, da aglomeração das aldeias e da diversificação da tarefas e funções. Várias teorias tratam do surgimento do Estado. Os intelectuais do iluminismo concordavam em certa medida com a ideia do contratualismo, ou seja, de que ele é fruto de um consenso entre os indivíduos. Dir-se-ia que a intenção de sua criação está associada a necessidade de ter um terceiro com capacidade para decidir as questões entre os indivíduos que compunham a sociedade. Forma-se um grupo de pessoas cuja função é gerenciar os aparelhos estatais. De lá para cá várias transformações na sociedade promoveram também transformações no Estado.

As obras de Hobbes, Montesquieu, Rousseau, Locke, Voltaire, Maquiavel e Marx nos dão uma visão panorâmica do que vem a ser essa criatura difícil de compreender.

A principal característica a ser considerada com relação ao Estado, entre outras que podem esclarecer o seu papel junto a sociedade, é o de ser o portador do direito de criar as leis. É através do sistema jurídico que ele mantém um controle da vida da sociedade - entenda-se que ao falar vida são todos os aspectos: trabalho, salários, educação, tributos, taxas, alimentação, meio ambiente etc. As leis são tentáculos invisíveis que se estendem até os cidadãos e os controlam de seu nascimento até sua morte, dizendo o que pode e o que não pode ser feito, quando e como devem agir cada indivíduo. O principal é que ele, o Estado, cria uma ilusão capaz de cegar os indivíduos. Em seu surgimento esperava-se que ele regulamenta-se a convivência entre as pessoas, nos dias atuais o que se observa é seu uso por um pequeno grupo para satisfazer suas ambições e, o que é mais grave, não é esse grupo que ocupa o aparelho estatal quem comanda tudo. São também eles subordinados de um grupo menor e que é invisível aos olhos mortais, desavisados, desinformados, desatentos e obrigados a olhar apenas para a sua sombra, com a cabeça abaixada pelo peso dos problemas sociais e das dificuldades que encontram para garantir a sua sobrevivência.

Não é possível esgotar a discussão sobre o Estado em apenas algumas poucas linhas ou em uma ou duas conversas. Requer leituras e debates diversos. É preciso se cercar de muitas informações e reflexões, está disposto a debater mas, principalmente, estar aberto para compreender as ideias antes de aceitá-las ou rejeitá-las.
Edmario Nascimento da Silva

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Escala

Há alguns anos, o cinema apresentou um filme de ficção-comédia chamado "Querida, encolhi as crianças". Nele, o pai (um cientista meio pirado) desenvolve um raio de encolhimento que, acidentalmente, atinge os filhos e os fazem ver o mundo de um modo diferente, com todas as coisas em tamanho gigantesco para eles.

A ideia de poder encolher as coisas parece irreal mas não está longe da realidade. Hoje é possível construir pequenos robôs a partir de nanotecnologia, fazendo-os tão minúsculos que são capazes de operar o coração de uma pessoa sem a necessidade de fazer incisões (cortes). Temos celulares minúsculos, chips de computadores cada vez menores e uma série de outras invenções. Logo, não é impossivel encolher as coisas.

Com o espaço geográfico não é muito diferente. Você poderia estar pensando: "Como vai ser possível encolher o espaço geográfico?". A resposta para essa pergunta dada a muito tempo atrás, pelos primeiros cartógrafos. Ao perceberem a necessidade de criar representações do espaço, esbarraram no problema de manter a fidelidade para com o espaço real. A solução foi simples: uma vez que sabiam o tamanho do espaço que se queria representar e o tamanho da superfície onde esse espaço seria representado (inicialmente argila, depois pele de animais e papiro, papel e, finalmente, eletrônico), aplicaram conhecimento matemático para garantir a proporcionalidade entre eles. Dividiram o tamanho da maior distância de fronteira do espaço pelo maior tamanho da superfície onde seria gravada a representação e encontraram um valor que indicava em quantas vezes foi reduzida a realidade para criar a representação. Ao resultado encontrado atribuiu-se o nome de escala. Matematicamente, podemos expressar essa relação conforme o exemplo: 1:25.000.000 (lê-se um centímetro equivale a vinte e cinco milhões de centímetros. Perceba-se, portanto, que a escala é o resultado da relação entre o tamanho real e o tamanho representado. Não se pode dizer que utilizamos a escala para reduzir algo. Na verdade, a escala é o que resulta da redução.

A escala é um indicador para sabermos calcular os valores reais das distâncias que estão representadas em um mapa ou outro tipo de representação cartográfica. Quando tomamos uma distância em um mapa, que será dada em centímetros, multiplicamos o valor encontrado pelo valor indicado na escala. Para isso, é necessário converter o valor para quilômetros. Na escala acima, 25.000.000 de centímetros correspondem a 250 quilometros. Assim, se no mapa encontramos uma distância de 3 cm, multiplicamos por 250 e encontramos o valor de 750 km.

A leitura constante e a observação são suficientes para compreender como funciona essa ferramenta útil no mundo da geografia.
Edmario Nascimento da Silva

domingo, 2 de maio de 2010

Democracia e liberdade!

Ouvimos sempre alguém dizer que vivemos em um país democrático, onde as pessoas tem liberdade e podem expressar o que pensam. Mas, de fato, o que vem a ser a democracia e o que é ter liberdade?

Na Grécia Antiga, berço da cultura ocidental, criou-se a ideia de democracia. Lá, todos os cidadãos tinham o direito de participar ativamente da vida política das cidades-estados. Para isso, cada indivíduo grego recebia uma educação fundamentada na filosofia, na retórica, na poesia e na política. Os valores que formavam o pensamento humano eram o principal ponto de atenção dos mestres e educadores. Procurava-se estimular o pensamento. Cada indivíduo era educado para ser um governante, a pensar nos problemas diversos da cidade-estado e a posicionar-se quanto a esses problemas. Eram preparados para defender suas ideias através de discursos que falassem para o lado racional e emocional das pessoas e, dessa forma, conseguir o maior número de defensores para a causa que sustentava. Observe-se com muita atenção que cada cidadão exercia diretamente o seu direito político, a sua vontade. Lógico que sempre houve um ou outro que se destacava e, por isso, conseguia arregimentar o maior número de adeptos para suas causas, mas não se alijava nenhum cidadão do processo decisório. Note-se, portanto, que a ideia de democracia fundada na Grécia tem como respaldo o fato de que se deve preparar o indivíduo para exercer e assumir o seu papel dentro da vida política da cidade.

Com a formação dos Estados Modernos, o aumento das fronteiras e do número de habitantes tornaram-se um obstáculo cada vez maior ao exercício da atividade política direta pelos indivíduos. Destarte, criou-se um sistema de representação política para expressar a vontade da população e tornar possível a organização do Estado e de seus orgãos. A vontade do povo passou a ser, teoricamente, defendida por seus representantes políticos. Tem-se, assim, a democracia realizada de forma indireta. Já não mais é possível ouvir em um lugar só a todos os que tem algo para falar sobre como devem ser geridos os assuntos da pátria. Dessa forma, perde-se o interesse em oferecer aos indivíduos uma educação que o torne apto  ao exercício do pensar e de expressar esse pensamento de forma sistemática e consistente. Deixou-se de preparar os sujeitos para serem governantes de seu país e começou um treinamento para que estes sejam governados. Em síntese, a democracia começou como forma de garantir a todos os cidadãos participarem do processo decisório e de governo de sua nação e culminou nos dias atuais em uma forma de mascarar os desmandos de pequenos grupos.

Mas até agora não falamos em liberdade. A democracia ocupou-nos um bom espaço, mas a liberdade é o centro gravitacional de tudo isso. Não se pense que liberdade é tão simplesmente fazer o que se quer, quando bem entender, sem ter que prestar satisfações dos atos e palavras. Muito pelo contrário. É inerente à liberdade  a responsabilidade e a consciência de tudo o que se faz. Liberdade implica em saber escolher o que se quer assumindo todos os desdobramentos provenientes de tal escolha, sabendo dos benefícios e dos malefícios que serão provocados a partir da ação ou da fala. Dito isto, podemos apontar para o centro do que se chama liberdade: a escolha. Liberdade implica em escolher, e escolhe bem que escolhe com consciência. Para escolher é preciso antes conhecer. Conhecer significa que você é capaz de apontar as qualidades e os limites do que está escolhendo, que é capaz de comparar e dizer o que seria mais benéfico, que é capaz de entender o que significa. Daí porque a educação tem um papel primordial na busca por ser livre. Por esse motivo os gregos recebiam educação voltada para a formação humanística, desenvolvendo a capaciade de pensar e, portanto, de escolher.

A democracia e a liberdade andam pari passu, uma junto com a outra. Voltemos agora ao início: será que vivemos em um país democrático, onde as pessoas tem liberdade? Antes de responder, vamos observar o nosso sistema educacional e nos perguntar sobre qual tem sido sua função. Em nossas escolas estamos formando pensadores capazes de atuar ativamente na vida política e na sociedade como gestores e governadores ou estamos formando indivíduos repetidores de fórmulas e pensamentos alheios, sem reflexão,  para serem governados e obedecerem as determinações de um pequeno grupo?
Edmario Nascimento da Silva

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um cochicho...

Para entender qualquer assunto precisamos nos debruçar sobre as partes que o compõem  para buscar o seu funcionamento ou sua razão de ser.

Quando dizemos que estamos estudando isso deveria implicar no ato de buscarmos a compreensão para algum tema, questão, assunto ou fato. Compreensão essa construída a partir da observação das conexões entre o antes e o depois, das relações situadas em níveis sub e que necessitam de um pouco mais de concentração. Estudar significa que estamos em estado de desequilíbrio cognitivo que nos obriga a buscar um ponto para nos equilibrar. Estudar é a busca por desvendar um mistério que se apresenta em forma de pistas a serem lidar e interpretadas para construir ou reconstruir os sentidos que ficaram ocultos ou distanciados.

É um fato cognitivo, emotivo, consciente e ordenado. Não acontece aprendizagem no estudo de forma aleatória. Precisamos reunir as informações de que dispomos, aquilo que já sabemos para com elas criar um ambiente propício para adquirir novos conhecimentos. Tanto mais profundo será o nosso conhecimento quanto mais profunda for a emoção que sentimos ao estudá-lo. Há mais chance de aprendermos sobre um assunto que nos desperta curiosidade, prazer e sensação de crescimento do que um assunto com o qual mantemos uma relação mecânica, obrigatória, sem entusiasmo algum.
Edmario Nascimento da Silva

terça-feira, 27 de abril de 2010

Representar...

Em nosso dia a dia estamos cercados por imagens diversas: sinais de trânsito, ícones no computador, livros e revistas, propagandas na televisão, em outdoors, pinturas de ônibus etc. Todas essas imagens que nos bombardeiam constantemente querem nos transmitir alguma mensagem. Em alguns, para compreender essas mensagens é ncecessário ter algum conhecimento prévio, outras vezes as mensagens são direcionadas para o nosso subconsciente ou para os nossos sentimentos.

Todas essas imagens recebem o nome de representação. A representação é a tentativa de transmitir ideias através de símbolos, ou seja, uma representação qualquer é o símbolo de uma ou mais ideias que se quer fazer compreender. Tomemos como exemplo a ideia do amor. Há várias formas de representá-lo: corações vermelhos ou simplesmente corações, rosas vermelhas, através de poemas e músicas, com um olhar... todos querem transmitir o que seja o amor. Encontramos na Bíblia uma representação do que seja o amor para o apóstolo Paulo, em sua 1ª carta aos corinthios, capítulo 13. No dia dos namorados, rosas e bombons dizem "eu te amo".

Vê-se, portanto, que o ser humano sempre está buscando alguma forma de transmitir suas ideias, seja através de imagens, seja através de palavras ou através de sons. A representação acompanha o ser humano mesmo antes da escrita, quando ele fazeia pinturas nas cavernas para demonstrar a ideia que povoavam sua cabeça. A própria escrita nada mais é que a representação gráfica do som, ou símbolo que busca representar o som. Aos escrevermos estamos utilizando um sistema de símbolos convencionados para representarem determinado padrão sonoro. Por isso, a representação é constante em nossa vida.
Edmario Nascimento da Silva

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Por não ter nada para dizer!

Ando meio sem tempo para postar aqui no blog! Trabalho, universidade, família, amigos, música, correção de provas... ufa! De todo modo, senti falta de escrever nesse espaço! Já faz parte da expectativa de meu dia postar alguma coisa no blog. Quando você começa a fazer algo de que gosta ou que passa a gostar, logo faz parte de você. Assim é que, sem muita dificuldade, vamos criando novos hábitos, incorporando elementos distintos, fazendo com que cada vez mais tenhamos o que dizer, ou nesse caso, o que escrever.

Todos deveriam fazer algo novo em seu dia, ou pelo menos, fazer de modo novo algo da rotina do seu dia: dizer um bom dia diferente, dar um sorriso diferente, dar um abraço surpresa em uma pessoa que nunca espera um abraço nosso, dizer "eu te amo" para um amigo, ler um livro que normalmente não leria, assistir a uma programação diferente, tirar o dia para não fazer nada... enfim, mudar algo do nosso dia.

A maturidade que alcançamos não está necessariamente ligada a quantidade de anos que vivemos. Podemos alcançar maturidade ainda em idade tenra. As leituras que fazemos, as experiências que vivemos (e a forma como as vivemos), o convívio com pessoas diferentes, a abertura para ouvir o outro de modo sincero, falar com o coração empolgado sobre algo que vimos ou ouvimos, o encantamento com a vida são coisas que nos fazem crescer.

Todas as pessoas deveriam ter oportunidade de ler bons livros, ouvir boa música, aprender um instrumento e ter amigos verdadeiros. Esses tesouros preciosos dão um toque especial a vida e fazem dela inesquecível. Certamente muitas pessoas não dão o devido valor a cada uma dessas coisas mas isso só acontece porque não tiveram a possibilidade de cedo, ainda na formação de seu caráter, manter contato com tais tesouros e desfrutar de seus encantos.

Finalmente, somente porque não tinha nada para dizer mas por força da necessidade de escrever é que estou postando esses pensamentos. Afinal, esse espaço é para trocar uma ideia e bater um papo.
Edmario Nascimento da Silva

domingo, 18 de abril de 2010

Homo sapiens, homo destruens

O processo evolutivo do  big bang até o surgimento da humanidade passou por violentos cataclismos de vida e de morte. Mas lentamente a vida se firmou contra as ameaças da natureza até o advento do ser humano. Alguém que ontem não tinha consciência de si hoje inicia o processo de humanização. Aos poucos enfrenta a natureza em sua força e agressividade. Dotado de razão, fabrica instrumentos como meios para subjugá-la. Quanto mais aperfeiçoa as ferramentas, tanto mais agride o ambiente. No começo, tudo caminha lentamente.

Com facilidade, imaginamos a Idade Média como momento cultural de contemplação. A expansão enorme da vida religiosa contemplativa, com mosteiros e conventos situados em lugares geográficos maravilhosos, criava uma mentalidade de admiração diante da beleza da natureza. Esta se tornara a matriz do pensar, do rezar, doagir. O ser humano se sentia pequeno em face dela. Ora o fascínio diante de momento de esplendor de beleza, ora o temor em face de catastrofes despertavam nele o sentimento religioso.

Isso é parte da verdade. Estudiosos da tecnologia denunciam ali inícios de devastação da natureza por conta da indústri do vidro, do couro e do abate de animais. Derrubavam-se árvores para alimentar o fogo dessa indústria incipiente e aquecer as casas no frio. Sem cuidados de higiene, já se poluíam as águas e os cortes da natureza feriam o equilíbrio. Anunciavam-se já estragos que rompiam a harmonia do ambiente.

O ser humano diferencia-se do animal ao introduzir desequilíbrios no mundo circundante. Em vez de ler a natureza nos seus sinais de vida e morte, impõe suas regras com outra lógica. E, aos poucos, o jogo entre vida e morte se inclina para o aumento da vida humana à custa de toda outra vida. (O DOMINGO. J.B. Libanio, sj.).

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Qual o propósito da educação?

Nos discursos proferidos na escola a educação é meio para que os indivíduos alcancem autonomia de pensamento, tornem-se capazes de agir em consonância com a ideia de cidadania, que implica em ter em conta o que é melhor para o grupo ou sociedade, atingir um bem estar que equilibre a convivência entre todos os membros que o compoem.

Educa-se para que os indivíduos busquem atingir a justiça em suas ações e palavras. Para que possam, diante de uma injustiça, interpor-se em favor do que é justo e certo, ainda que isso não seja diretamente benéfico para si, mas que alcançará a harmonia social.

Pode-se, inclusive, afirmar que a educação tem como finalidade alcançar a felicidade e a paz. A felicidade é um bem perseguido por qualquer pessoa. Ser feliz decorre de conseguir alguma forma de realização do propósito da vida. É feliz o ser humano que sonha e almeja a realização desse sonho. Gonzaguinha nos ensina que sem sonhos se morre e se mata. Consequentemente, o ser humano que é feliz vive em paz com os seus semelhantes.

Note-se, então, que o propósito da educação é de um alcance para além da simples transmissão do conhecimento. Trata-se de buscar o sentido último da vida e nos preparar para atingí-lo. Vai além de um mero momento. Liberta e transforma!

Há de se pensar: Em que momentos se faz a educação? Quando é que, conscientemente, recebemos educação? Quais são os meios adequados para educar o ser humano?

Outras tantas perguntas podem ser elaboradas sobre o tema da educação, mas o fato é um só: não existe hora e nem lugar para a educação. Toda oportunidade deve ser aproveitada.

E como saber que alguém foi atingido pela educação? A resposta é mais simples do que se possa imaginar. Quando começamos a distinguir o que é justo, o que é bom senso, a ponderar sobre os acontecimentos e buscar o equilíbrio.

A escola desempenha um aspecto da educação muito importante: oportuniza que as diversidades encontradas na sociedade possam ser experimentadas em seu ambiente, discutidas, analisadas, compartilhadas preparando, desse modo, os alunos para viverem em sociedade. Quando a escola atinge esse propósito e junto com isso é capaz de fornecer instrução, informação, formação (que não se confundem com educação, antes são partes que podem ser decompostas do todo) podemos dizer que educou o aluno.

Não podemos confundir educação com repetição de conceitos e fórmulas, regras e exemplos. Nem podemos acreditar que alunos que responderam uma avaliação “de cabo a rabo” - para utiliza uma expressão cultural – são os mais preparados para a vida e para atuar na sociedade. Deixemos cair o véu que recobre o nosso olhar e nos esforcemos para atingir o objetivo final da educação, desenvolvendo a capacidade de perceber situações de injustiça e buscando corrigi-las a tempo, antes de provocar uma deformação no lugar da educação.
Edmario Nascimento da Silva

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O mito da adolescência... histórias para enrolar o coração (e a cabeça)!

Em uma época em que a ciência não havia se desenvolvido ainda, as explicações para os fenômenos extraordinários que ocorriam no dia a dia do ser humano partiam de observações da vida prática misturadas a uma imaginação fantástica. O resultado dessa mistura chamava-se mito.

Com o passar do anos e o desenvolvimento do conhecimento humano era de se supor que não haveria mais lugar para a mitologia, ou seja, explicações fantasiosas para os eventos da vida. Contudo, não foi bem assim que ocorreu. Na verdade, o avanço científico estimulou cada vez mais a criação de mitos: o trabalho dignifica o homem; todos somos iguais perante a lei; vivemos em situação de miséria porque o país é  pobre; o voto é a arma do cidadão para transformar a sociedade; quem ama é fiel; o amor supera tudo... e uma infinidade de outros contos e lendas.

Quero nesse espaço pensar sobre um deles em especial: O mito da adolescência! Nas sociedades primitivas não existe a figura do adolescente. Os "adolescentes" vivem em conjunto com os adultos assumindo responsabilidades e tarefas. Não há registro na história das civilização grega ou romana sobre qualquer coisa havida como adolescência. Entre os espartanos, os cidadãos eram afastados de suas famílias aos sete anos recebiam treinamento e assumiam a sua obrigação para com Esparta. Eram treinados nas artes de combate mas também na política. Em Atenas, a idade dos sete anos marcava o início do período de estudos em artes, filosofia, política, retórica, matemática e poesia além de cultuarem a boa forma do corpo. Entre os romanos, desde cedo, recebiam educação para a vida política e o exercício da cidadania romana. Na história, vários imperadores, reis, governantes etc tinham a idade entre 12 e 14 anos. Onde estavam as transformações psicológicas pertubadoras, capazes de desequilibrar as atitudes dos jovens e torná-los despidos de bom senso e responsabilidade? Em que lugar estavam escondidas a descompensação hormonal e as mudanças de humores que caracterizam a tal adolescência? Onde estava escondida a irresponsabilidade característica dessa tal fase? E todo o blá blá blá... onde?

Somente após a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, quando foi preciso estimular a formação de um exército de reserva é que tem início a ideia de adolescencia. Quando as condições materiais permitiram que um número cada vez menor de pessoas fossem necessárias para produzir riquezas, o número de mãos utilizadas no trabalho foi sendo reduzida. Nesse momento, ao invés de permitir aos demais usufruir das benesses do avanço, criaram mecanismos eficientes de controle das peças de reposição para o mercado de trabalho e inventaram a adolescência.

Nos dias que se seguem, a tecnologia e as ciências associados a ideologia massificadora e idiotificante do ser humano criou um híbrido perfeito: manipulável, maleável e inconsistente. A figura do adolescente ganhou o centro das atenções. A psicologia moderna encarregou-se de descarregar sobre os pais, mestres e sociedade ideias falaciosas sobre a famosa "transição" para a idade adulta. A pedagogia, em especial, procurou responsabilizar totalmente os educadores pelo fracasso do adolescente e idolatrou o sucesso de outros (raríssimos) como exemplo de jovem que supera a falta de preparo do educador. A mídia encontrou o consumidor perfeito. E o mundo paga a conta. A adolescência virou um monstro de olhos vermelhos e garras afiadas pronto para destruir a sociedade sem ter que se preocupar com qualquer consequência.

Qualquer adolescente quer ouvir que ele vive um período difícil, complicado, com muita pressão: a descoberta do amor, a transformação do corpo, a aproximação do vestibular, a sexualidade... Todos querem que se diga: Não é culpa sua! Você não tem que se preocupar com isso! Ainda são jovens e tem que aproveitar! Ao meu ver o que de fato é necessário é acabar ou pelo menos transfomar essa mitologia em algo mais palatável, mais verdadeiro. Utilizar aspectos reais (transformação do corpo, hormônios...) e misturá-los à fantasias (ser irresponsável, indeciso, inseguro...) dando vida a uma fase, não significa dizer que essa mitologia contemporânea não possa ser superada (assim como a mitologia grega foi superada pelas descobertas posteriores).

O que sei de fato é que em nada ajuda ao adolescente ratificar todas as besteiras que se diz sobre eles. A solução é simples e sempre esteve a disposição, tendo sido citada pelas sagradas escrituras em seus livros sapienciais: Educa a criança no camino reto para que não tenhas que repreender o adulto.
Edmario Nascimento da Silva

É hora de acordar!

De fato há uma barreira que parece intransponível impedindo as pessoas de exercitarem a sua capacidade de pensar e exercitar o livre arbítrio.

Durante o meu dia convivo com pessoas diferentes, de diferentes formações, história de vida e experiências diversas e, cada vez que o dia termina, coloco-me a pensar sobre a lição aprendida. Causa-me certo pavor perceber a maneira como se interpõe entre o indivíduo e sua realidade o descaso com sua liberdade.

Construir uma cidadania - de fato o termo que se deve aplicar é construção pois se trata de um estágio a que o ser humano precisa efetivamente vir a ter, não estando dado e posto desde sempre e para todos - implica em garantir condições mínimas para se ter dignidade: ter uma casa para morar, emprego, serviço de saúde e educação com qualidade, segurança, lazer, respeito... tudo isso se conquista através de trabalho e organização.

Contudo, para atingir esse estágio faz-se urgente que desatemos os nós que prendem o nosso ser em um emaranhado de mentirar e ilusões, contos e fábulas, lendas e mitos acerca de quem somos e o que podemos ou não fazer. Aprendemos desde cedo que existem coisas que as crianças não entendem; aprendemos que há livros que apenas os mais instruídos são capazes de entender; aprendemos que a adolescencia é a idade da perda da razão e da irresponsabilidade desenfreada, sem limites; aprendemos que não temos capacidade para desenvolver o nosso intelecto; aprendemos que só iremos estudar determinado assunto em determinada série; aprendemos que pensar é difícil e que fazer ciência é coisa para poucas pessoas dotadas com capacidades extraordinárias. O principal não aprendemos ainda: não há limite de sexo, cor, idade, credo, nacionalidade para a capacidade que temos de aprender. Quem determinou que uma criança não irá entender um clássico da literatura ou da filosofia? Quem criou a escala de idades onde se pode aprender isso ou aquilo? Quem tem o poder de dizer aquilo que sou ou não capaz? Estamos mergulhados em uma trama bem tecida que sabota o nosso pensamento. O pior é que reproduzimos isso com tamanha força em nossos discursos que encontramos nessa ilusões explicações para nós mesmos que nos convencem de que não devemos ir além, ousar ser capaz.

Vivemos em um estado letárgico, de dormência das nossas potencialidade. Não queremos explorar os nossos recursos. É mais fácil dizer que o outro é mais inteligente ou que foi melhor preparado ou quem sabe que ele está em um nível de instrução que não alcançamos ainda. E assim nos conformamos em viver na mediocridade. Aplaudimos o que há de ridículo e desprezamos tudo que pode nos conduzir a assumir nosso papel. A LIBERDADE TEM PREÇO! A frase é batida mas sempre verdadeira. Precisamos olhar bem no fundo para chegar até a realidade das coisas. Viver na superficialidade só nos leva a uma série de ilusões que cada vez mais vão ludibriando nosso verdadeiro destino. Nascemos para brilhar com as estrelas e, entretanto, cada vez, mais de nós estão entregues as profundezas escuras da terra.

Quero acreditar que ainda resta alguma esperança e que em algum momento, em breve, muitos despertarão desse coma induzido em que se encontram para registrare atividade cerebral. Nesse dia, não mais será preciso pregar no deserto.
EDMARIO NASCIMENTO DA SILVA

terça-feira, 13 de abril de 2010

Por que tenho que estudar?

Compreender a importância de estudar para as nossas vidas parece ser uma tarefa cada vez mais difícil e que tem se distanciado muito da nossa realidade.

É preciso voltar no tempo, para a época em que o bicho homem caminhava amedrontado pelas florestas, olhando sempre para todos os lados, tentando evitar a surpresa de um ataque de algum animal feroz. Época em que ainda não tinha desenvolvido sua capacidade de articular uma série de eventos, condições, recursos e possibilidades para fazer surgir, como que em um passe de mágica, um objeto preciso a ser utilizado como meio capaz de afastar o perigo ao mesmo tempo em que resolvia questões de outra ordem.

Foi somente quando o bicho homem teve tempo de observar que uma descarga elétrica percorreu o seu cérebro e deu início a uma série de processos que resultaram na articulação dos pensamentos que andavam soltos por sua cabeça. Olhando o crepitar das chamas que consumiam os galhos secos das árvores, encantado com a magia que brotava daquele evento, sem conseguir desviar a sua atenção, dedicando-se em observar cada estalar, cada movimento provocado pelo vento e a mudança que ocorria com a madeira que aos poucos ia se transmutando em carvão, o homem deixou de ser bicho e ganhou nova designação. Estava fadado a, daquele dia por diante, ser chamado de humano.

O ser humano nasce, portanto, junto com a capacidade do bicho homem de aprender sobre os acontecimentos que lhe são externos, transformando de uma vez por todas tudo o que tinha em seu interior. Aprende que é capaz de manipular a natureza e transformar os seus elementos em elementos novos; aprende que é capaz de utilizar os objetos criados de diversas formas diferentes, ora para se proteger, ora para comemorar, ora para se alimentar. ora para decorar; aprende que não mais precisa fugir dos outros animais, tornou-se o soberano entre os bichos; e, de forma espetacular, aprende que é capaz de transmitir, transformar, acumular e ressignificar tudo que aprendeu e cria a obra-prima de toda a existência: a educação.

De tudo que é capaz de transformar a vida dos homens e mulheres, a educação é arma mais poderosa. Se somos criativos e inventivos, dotados de uma imaginação ilimitada e capacidade de superar os obstáculos é através da educação que nos inventamos humanos. O ser humano é o produto mais bem elaborado que surgiu da transformação do espaço. Ao criar os mecanismos para superar sua limitação, o animal homem que antes era submisso a natureza criou a si mesmo diferente de todo o resto chamando-se de ser humano.

Nascemos todos como qualquer outro animal mas pela ação da educação, responsável por nos transmitir e reelaborar o conhecimento acumulado de toda uma espécie, vamos nos criando humanos. Por isso, ao agir sem pensar, abrimos mão da longa trajetória que transformou uma coisa em um ser; deixamos de agir como senhores da natureza para nos igualarmos as feras selvagens que reagem por puro instinto.

Não se surpreenda: você é o resultado de um processo dinâmico e ininterrupto de transformação de experiências práticas em conhecimentos e teorias. Não reme contra a maré. Determine onde quer chegar, aproveite a oportunidade de usufruir da educação e ajude o ser humano a dar um salto de qualidade para se transformar em uma outra espécie, melhor integrada com a natureza, superando o atual estágio de dominador da natureza para novamente se integrar a ela não mais como um bicho, uma fera, mas como um parceiro e cumplice na criação de beleza, suavidade, harmonia e paz.
Edmario Nascimento da Silva

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Tudo começa pelo fim.

Para começar uma caminhada é preciso estabelecer os objetivos. Esse primeiro passo é quem vai guiar toda a sequência de eventos que se desencadeará. É a partir dos objetivos que definimos as estratégias, visualizamos os possíveis problemas e soluções para eles. É o primeiro a ser estabelecido e o último a ser alcançado.

Quando estabelecemos os objetivos que pretendemos alcançar fica mais fácil planejar o necessário para que ele se realize. Não somos surpreendido pelas dificuldades, mesmo quando não fomos capazes de antecipá-las. Estamos convictos do que queremos. Concentramos esforços e energia para atingir o propósito.

Se desejamos, por exemplo, ser o melhor guitarrista do mundo, já temos claro qual é o nosso objetivo, o que queremos alcançar. A partir daí, devemos planejar os passos para chegar até lá. Começamos com escolher uma boa escola e um bom mestre, adquirimos material para estudar, dedicamos horas e horas estudando e treinando, aprimoramos o nosso ouvido, treinamos a técnica, estimulamos o nosso feeling (expressão, sentimento na execução) e, por fim, alcançamos a autonomia. É preciso ter consciência de que todas essas etapas são necessárias para alcançar o objetivo.

Não podemos perder de vista aquilo que queremos senão desanimamos. Depois de tudo isso é preciso ainda estar consciente de que não vai haver milagre. O céu não irá se abrir para trazer a mensagem de que somos reis da guitarra. Temos que adentrar no mundo da música, mostrar o nosso trabalho, colocá-lo para apreciação e crítica. Precisamos entender que não existe crítica construtiva. A função da crítica é mesmo apontar o que há de defeituoso, incompleto, imperfeito, feio e inadequado. A crítica deve destruir para deixar espaço aberto a uma reconstrução e renovação, para uma nova criação e aperfeiçoamento.

Com tudo é assim. Escrevemos um trabalho, entregamos aos professores e esperamos que ele nos diga que tudo está perfeito. Entretanto, o papel do educador é o de fazer a crítica. Não nos ajuda aquele professor que para tudo nos dá um sorriso, diz que está lindo, perfeito e dá um dez. Somos humanos e imperfeitos e essa é a nossa melhor qualidade. Significa que sempre podemos melhorar, sempre haverá algo a ser aperfeiçoado e, desse modo, haverá sempre um caminho melhor a ser descoberto que pode trazer resultados mais significativos para todos, e não somente para nós. Aquele que tem medo de nos apontar nossos defeitos, limites, incapacidades, inabilidades não nos ajudam. Quem sempre concorda com você pode ser seu pior inimigo pois não o deixa em alerta para o que pode ser melhorado.

Para conquistar nossos objetivos temos que aprender a ouvir a crítica e tomá-la como ponto de partida para uma nova empreitada. Quem nos crítica, ainda que tenha prazer em fazer isso, está nos ajudando (mesmo que essa não seja a intenção) porque nos proporciona uma visão que não estamos tendo daquilo que realizamos.

O caminho pode ser longo mas deve ser significativo. Saiba porque está fazendo e não será abalado pelos problemas. Desenvolva a percepção de que no caminho sempre haverá pedras. Não se entregue e siga em frente.

É como dizem: no final tudo acaba bem! Se não está bem é porque ainda não acabou!
Edmario Nascimento da Silva

Escrever

Escrever é ato, ação, escolha! Não há um segredo nem tampouco uma fonte de inspiração! Simplesmente é capaz de escrever aquele que se põe a escrever.

É bem verdade que não é de uma hora para outra, como um passe de mágica, que a pessoa resolver escrever e, a partir daí, sai escrevendo como Machado de Assis. É lógico pensar na existência de um método capaz de dotar o indivíduo da habilidade de escrever. Certamente há um caminho por onde se possa trilhar para desenvolver a capacidade de escrever.

Ler possibilita que tenhamos um repertório de informações disponíveis para serem usadas.

Não existe uma mágica para evitar o treinamento. É preciso começar a escrever. Escrever se aprende escrevendo. Aliás, quase tudo na vida só se aprende a fazer, fazendo.
Edmario Nascimento da Silva

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um pouco mais sobre pensar!

Das muitas coisas que falamos sem perceber a profundidade, uma conseguiu me assustar de uma forma que até então eu não tinha considerado: não usar a cabeça enferruja o cérebro!

É bem verdade que há um impulso natural do ser humano em usar a sua capacidade intelectiva. Mas o fato é que não usar essa capacidade acaba por embotar o cérebro. Assim como qualquer outra parte do corpo, a nossa massa cinzenta também precisar ser utilizada com constância para não ficar fora de forma. Não se trata de simplesmente fazer qualquer coisa, e sim, de exercitá-lo. Da mesma forma que a caminhada rotineira do dia a dia não deixa o nosso corpo em forma e que precisamos ir para uma academia, recorrer a personal trainer ou coisa que o valha para conseguir deixar os nossos músculos tonificados e estado sadio, ocorre com o nosso cérebro algo correlato. Precisamos oferecer ao centro de processamento de dados e informações que situa-se em nosso crânio um programa de treinamento e exercícios para que ele se mantenha sempre em forma. Um cérebro não utilizado atrofia. O problema reside no fato de que, uma vez atrofiado, precisa-se de um grande esforço para conseguir devolvê-lo a um estado sadio. E assim como ocorre com os nossos músculos que reclamam quando são forçados a entrar em forma pela repetição de séries de exercícios, também a nossa "cpu" reclama quando solicitada a deixar a comodidade do não-pensar. Sentimos dores de cabeça, tontura, agonia, ansiedade, medo, raiva, decepção, desespero, deseperança... tudo isso em uma tentativa de não ter que deixar o estado vegetativo para o estado consciente.

Muito dirão que já utilizam seus cérebros demais com tantas coisas que tem para se preocupar. Contudo, assim como o fato de uma pessoa aparentar estar em boa forma não significa que esteja, assim como que passa o dia no corre-corre de um lado para o outro não garante uma boa saúde, também aquele faz tarefas aparentemente intelectuais pode afirmar que tem o cérebro exercitado.

Sempre encontramos desculpas para não fazer aquilo que parece trazer algum sofrimento (às vezes realmente traz) mas que com a constância se converterá em benefício, virtude. Coloque-se em movimento e tire a poeira do andar superior.

Para quem não se empolga com a ideia de ter que exercitar o cérebro uma boa notícia: é o único órgão em nós que pode manter sua juventude e agilidade com o passar dos anos, desde que mantenha-se o hábito de desafiá-lo a estar sempre aprendendo coisas novas, resolvendo problemas e atualizando-se. Para os fãs de novidades tecnológicas uma dica: você é dotado com o computador mais avançado, com capacidade ilimitada, que o ser humano jamais será capaz de criar. Desfrute desse privilégio!
Edmario Nascimento da Silva

terça-feira, 6 de abril de 2010

A arte de bem pensar

Tem sido comum deparar com pessoas que cada vez mais desligam-se de sua capacidade de pensar.

Parece um exagero sem tamanho a afirmação acima, entretanto, uma breve análise do que está implicado na arte de pensar nos esclarecerá o fundamento para tal afirmação.

Pensar é antes de tudo um ato consciente, articulado, capacidade de planejar as etapas a serem seguidas para se obter determinado resultado. Pensar não deve ser confundido com pensamento. O pensamento é um pássaro livre que voa por aí sem rumo, é inerente a espécie humana sendo-lhe um atributo natural. A arte de pensar requer domínio do pensamento, requer capacidade de direcionar o pensamento para um determinado propósito. Pensar é como represar as águas de um rio para canalizá-la e, a partir de sua força, produzir energia. Pensar é ato coordenado com objetivos e que segue uma linha que direciona o pensamento para resolver os problemas que possam surgir, antevendo, antecipando os eventos e articulando os recursos necessários para superá-los ou usá-los a favor do que se pretende obter.

Perceba-se, portanto, que qualquer pessoa é dotada de pensamentos, mas pensar requer preparo e disciplina. É papel das escolas fornecer ferramentas adequadas com as quais os seus alunos sejam capazes de desenvolver a capacidade de pensar. Contudo, o que assistimos é um "faz de conta que acontece" onde professores e alunos não se disponibilizam para desenvolver essa arte que a muito vem sendo abandonada. Enquanto isso, na sala de justiça, os controladores do nosso dia a dia refestelam-se ao sabor das nossas desventuras. Se queremos igualdades, cidadania, direitos respeitados, garantias sociais, dignidade, paz... precisamos sair da caverna e deixar de ver as sombras como coisas inexplicáveis e fantásticas, abandonar as "verdades" fabricadas que nos empurram goela abaixo e assenhorarmo-nos de nossos pensamentos. Já se disse que o pensamento é a maior força criadora e transformadora do mundo. É verdade. Mas o pensamento somente pode alcançar essa qualidade quando não é direcionado por outros.

Pensar é condição sine qua non para a liberdade. Quem não governa seus pensamentos não pode escolher bem, e, escolher é prerrogativa para a liberdade. Que liberdade pode ter um indivíduo que não sabe porque gosta disso ou daquilo, por que usa essa ou aquela marca, esse ou aquele sapato, essa ou aquela bolsa? Que liberdade tem aquele que, de forma ingênua, acredita que a escolha de usar uma "pulseira do sexo" como adereço, sem maiores compromissos,  não pode ser interpretada pelo outro como sinal para suas ações?

Mas do que nunca precisamos resgatar essa tão bela arte que ficou abandonada ao longo dos anos, confinanda em redutos onde uma pequenina parcela, sabedora da importância dessa preciosa arte, divulga pensamentos violentos contra ela através de suas bandeiras de consumismo e alienação.

Pensar é preciso!
Edmario Nascimento da Silva

domingo, 4 de abril de 2010

Vivendo em um aquário!

Olhe ao seu redor. Será que você consegue perceber as barreiras que existem e que impedem de viver a totalidade do seu lugar?

Todos os dias somos bombardeados por uma série de propagandas de consumo que veem carregadas de ideologias. Consumimos não apenas produtos, consumimos muito mais ideias! De verdade, viramos um outdoor ambulante fazendo propaganda gratuita de varios produtos que estão na moda. Afirmamos nossa identidade através de coisas não de personalidade, vontade ou autonomia. Estamos cada vez mais esquecendo de quem deveríamos ser e assumindo o personagem que alguém, em algum escritório confortável ou em casa, cercado de todos os luxos, preparou para nos vender.

Somos peixinhos em aquários! Acreditamos que temos liberdade, que podemos ir e vir quando bem entendermos, que podemos expressar qualquer pensamento e fazer aquilo que bem entendermos. Não enxergamos as paredes de vidro do aquário que nos prende. Vemos através dela o mundo com todas as suas possibilidades, belezas, encantos, ritmos, sons... mas não nos damos conta de que nos é permitido viver apenas um pequeno pedaço desse mundo. Somos controlados! Não vemos quem controla o que está do lado de fora do aquário. As paredes invisíveis são a maior prisão! Se não a vemos, acreditamos que somos livres. Se não a vemos, não há porque querer lutar para ter liberdade! Se não a vemos, aceitamos sem questionamentos todas as imposições que derivam de sua existência.

As paredes invisíveis que nos prendem e nos limitam podemos dar o nome de ideologia. Trata-se da maior forma de domínio já criada pelo ser humano. É a maior arma já inventada, capaz de matar sem precisar lançar sequer um pequeno projétil e ainda ser aceita como natural. As vezes parece que há uma teoria da conspiração! Na verdade, a grande sacada da ideologia é conseguir se camuflar no inconsciente fazendo com que cada indivíduo assuma para si as verdades preparadas por outros (uns pouquíssimos) que detém o controle das ideias, e portanto, o domínio sobre a vida de todo um grupo.

Combater essa dominação requer um esforço que nem todos - na verdade, quase ninguém -  está disposto a fazer! Requer a leitura constante, crítica e reflexiva, consciente que abre caminho para a autonomia do pensamento. Requer estar atento aos discursos para desconstruí-los nas componentes básicas de suas ideias, identificando-as e analisando-as, para depois se posicionar sobre a aceitação ou não dela. A escola tem sido palco de propagação de ideologias mas tem potencial para se tornar, ao exemplo de Sócrates, a arena onde a consciência emerge trazida a tona com o auxílio do professor.

Sair do aquário e aproveitar toda a capacidade do oceano: eis o sonho que devemos aspirar com toda vontade!
Edmario Nascimento da Silva

segunda-feira, 29 de março de 2010

Por que a água?

Que a água é um bem precioso todo mundo tem certeza! Entretanto, quantas pessoas estão realmente preocupadas com o destino dela?

O consumo desmedido que tem lugar nos dias de hoje cria um contínuo desperdício de tudo que nos cerca: água, energia, pessoas, esforços, inteligência, trabalho, tempo, sonhos, perspectivas... Tudo é quantificado e medido, avaliado segundo um critério estritamente financeiro, o quanto vale em dinheiro ou em capacidade de se tornar dinheiro.

Mede-se a capacidade do indivíduo de consumir e gerar desperdício. Na lógica capitalista atual, tornada massificadora ao extremo pelo fenômeno cruel da globalização, o cidadão cede lugar para o consumidor. Viramos figuras em um tabuleiro com uma plaquinha indicativa do nosso valor no mercado, colocados a disposição e em exposição contínua para aqueles que possam se interessar.

O desperdício gerado pelo consumo desregrado, irracional, quase infantil, interessa as grandes empresas multinacionais que atuam de forma feroz no controle do mundo. Imaginamos que o Estado, representado pelo governo, age em interesse da população, defendendo-nos de um destino atroz e avassalador. Contudo, o que se constata é a submissão das políticas públicas aos interesses econômicos do grande capital especulativo.

Não estou fugindo do tema água, mas aprofundando a sua discussão. Sendo um recurso de primeira necessidade em qualquer lugar do planeta, tornado escasso, terá o seu valor multiplicado por milhões. Quem controlar as reservas naturais de água, controlará o destino de bilhões de pessoas. O controle do uso e consumo generalizado desse recurso fornece uma situação privilegiada para quem detém o direito de explorá-lo. Com certeza caminhamos para uma privatização desse recurso, com limitação da oferta para a população em geral.

A água está presente em todos os elementos que nos cercam. Da produção de uma folha de papel até a fabricação de uma estação espacial; do cultivo de uma hortaliça a produção de energia. Há água em todas as coisas, mesmo que não seja perceptível a olho nú. A água irriga a nossa massa corporal de forma a permitir a nossa existência. Ela flui junto com a vida!

Relacionar cidadania e água é repensar o modelo de vida e consumo que adotamos como sendo o melhor, mais confortável, mais cômodo. É refazer a cultura imposta pelas estratégias globais, mudando o foco de importância do dinheiro para o indivíduo. É resgatar os valores de sociabilidade e solidariedade que foram descartados pela empresas como desnecessários e atrasados, impedidores do progresso. Enfim, é reconstruir o espaço geográfico a partir de novos valores centrados nos seres humanos e não no objeto dinheiro.
Edmario Nascimento da Silva

Uma mudança de paradigma

Vivemos em um período totalmente dominado pela ideologia. Parece a repetição de um clichê, mas é a mais atual das constatações. A ideologia ganhou formas e cores, sons e luzes, passando a fazer parte do nosso dia a dia, enraizado em nossos pensamentos e pragmatismos. Deixou de ser imaterial e se materializou na forma de novos produtos derivados da tecnologia e da aplicação de técnicas cada vez mais unificadas. O pensamento produzido por uma lógica perversa, que considera todos como coisas e que antevê a diminuição da participação das pessoas na economia e na vida, relegados a condição de excluídos.

Produz-se, hoje, discursos que antecipam o que ainda não existe como fato já consumado, existente e natural. Antes que se possa pensar a respeito, somos bombardeados por ideias que não se sabe de onde vieram ou para onde vão, apenas consome-se sem questionamentos. Assim, nasce também uma produção de conhecimentos que ao invés de nos estimular um pensamento libertador nos prende em uma caixa forte, um cofre, impedindo-nos de questionar "quem mexeu no meu queijo?" porque não há tempo a perder nessa trajetória de mudanças ininterruptas. Simplesmente temos que nos lançar em uma corrida desenfreada por buscar as migalhas que nos são ofertadas por quem controla todas as possibilidades e todos os estoques, obrigando-nos a aceitar como natural o movimento artificial de retirar a dignidade, a cidadania e a participação na vida da sociedade. Não há tempo a perder.

A maior arma contra o mal que nos ameaça e nos oprime, a informação, virou o maior veículo de reprodução dessa situação. As informações são manipuladas para convencer a todos de que não há retorno ou solução. Estamos cada vez mais desinformados e deformados. Por onde anda a educação? Cumprindo o seu papel de perpetuar o sistema cruel e excludente, onde não há espaços para a solidariedade e o pensamento político.
Edmario Nascimento da Silva

domingo, 28 de março de 2010

Geografia e poder

As relações que se estabelecem dentro de determinado espaço dominado pelo ser humano são de total interesse dos estudos geográficos. A interação dos grupos humanos entre si e com o ambiente que o cerca são significativas para compreender a forma como esse grupo se organiza para produzir sua existência e para transformar a natureza de forma a atender às suas necessidades.

Uma vez que a geografia se ocupa de estudar as relações vísiveis e invisíveis que constroem o espaço geográfico, devemos considerar esse estudo como uma análise, também, da forma como o poder se manifesta na organização social, não querendo com isso fazer uma análise antropológica nem sociológica, mas respaldando-se nesses ramos do conhecimento para construir a teia de situações que se entrelaçam para determinar o domínio de uns sobre outros.

Entender que o poder que aqui tratamos é a capacidade de influenciar, determinar, manipular, ocultar, transformar e direcionar as relações que se processam no espaço geográfico é de fundamental importância para compreender de que forma os estudos geográficos são capazes de revelar o poder manifesto no espaço.

Ao longo dos anos, desde que os seres humanos foram capazes de observar a natureza para transformá-la, criou-se uma distinção entre os grupos: de um lado, aqueles capazes de criar soluções para os problemas, capazes de gerenciar as situações, capazes de determinar as necessidades prioritárias a serem atendidas, capazes de controlar a produção de bens, capazes de manipular as informações que seriam disseminadas como verdades entre todos; do outro, aqueles que simplesmente seguiam as determinações dos demais, sem se questionar ou se colocar como agente transformados, apenas executores. Dessa distinção nasceram as relações de poder. O domínio de um grupo pelo outro se dá na medida em que um é capaz de controlar a oferta de oportunidades, a forma como será disposta a distribuição dos bens e riquezas, o acesso a informação, a circulação de informações, a divisão espacial, a infraestrutura... todas essas situações fazem parte das relações de poder que ocorrem no espaço.
Compreenda-se, portanto, que o estudo do espaço geográfico - objeto de estudo da geografia - vai além de decorar nomes de países, rios, montanhas etc. É a busca da compreensão das dinâmicas sociais que se manifestam na forma de organização do espaço, traçando linhas invisíveis que explicam a ocupação e utilização do território por grupos humanos diversos. É o estudo da forma como o ser humano foi capaz de se desenvolver tendo que se relacionar com a natureza e com o seu semelhante.

Geografia e poder é, portanto, o tema central dos estudos traçados para essa disciplina científica muitas vezes desprezada.
Edmario Nascimento da Silva

quinta-feira, 25 de março de 2010

O lugar

Quando falamos em lugar, nem sempre compreendemos o significado da palavra. O termo lugar, quando utilizado dentro do contexto da geografia, refere-se a uma porção do espaço geográfico carregado de significado para um indivíduo ou um grupo determinado. O lugar é um recorte do espaço geográfico onde se estabelecem relações visíveis e invisíveis; onde os sentimentos e sentidos que carregamos ganham um significado especial. É no lugar onde produzimos cultura, onde refazemos a nossa vida, onde descobrimos possibilidades.

Falar em lugar é ter consciência da formação do espaço em suas várias perspectivas: interação entre as pessoas, estratégias para superar as dificuldades, troca de ideias, exercício da política, mudanças nos padrões de comportamento... é um todo complexo cheio de emaranhados, caminhos e descaminhos.

Para entender o significado do lugar é preciso viver o lugar, experimentá-lo. A descoberta desse significado é, antes de tudo, uma experiência pessoal e intransferível. Nesse caso, a geografia atua em um mundo imaterial que se guia pelos sentimentos. Mundo intangível do qual emerge uma centena de situações postas e compostas de diversas e diminutas partes que vão se apresentando ao longo do tempo, da necessidade e das possibilidades.

É importante visualizar o espaço geográfico como um todo para não perder de analisar seus aspectos intrínsecos e ocultos a olhos desatentos. Viver o espaço para compreender o espaço vivido.
Edmario Nascimento da Silva

Fábrica de cultura

Imaginemos por um instante que estamos sozinhos, mergulhados em um total vazio de ideias, sem ninguém para compartilhar os nossos anseios, medos, expectativas e sonhos. Que faríamos nessa situação? Invocar essa imagem em nossa imaginação é o primeiro passo para compreender o fato de que somos fabricantes de cultura. Por quê? Porque o fato de interagirmos com os outros indivíduos da nossa espécie nos faz adotar determinados comportamentos, eleger certos valores, escolher um ou vários tipos de alimentos etc. Nosso comportamento resulta da mistura de elementos oferecidos pelo espaço que habitamos e, ao mesmo tempo, pela nossa capacidade de viver em grupo.

A cultura é como uma corda invisível que une os indivíduos em uma porção do espaço geográfico que chamamos de lugar. Somos produtores de cultura porque produzimos a nossa existência ao criarmos o espaço em que vivemos, ao desenvolver estratégias para nossa sobrevivência. Um simples fato nos coloca na condição de fabricadores de cultura: a comunicação. Somos a única espécie capaz de transmitir e ensinar aos nossos descendentes aquilo que aprendemos. Contudo, a cultura não se resume a mera transmissão dos nossos conhecimentos, tradições, histórias, lendas... é muito mais que isso. A cultura nos dá a capacidade de transformar o que existe e de criar uma existência única. Ela própria é a ferramenta com a qual modificamos a nossa existência e, ao fazermos isso, estaremos alterando a própria cultura.

Para construirmos cultura é indispensável que estejamos em grupo. Ela é um produto coletivo. Não há que se falar em cultura individual, uma vez que o indivíduo isolado não é capaz de superar todos os obstáculos que se impõe sobre ele. Mesmo que hoje alguém decida viver sozinho, de modo isolado do restante do mundo, já estará carregando consigo o produto da interações dos grupos que o antecederam e, portanto, já terá recursos culturais que o permitirão viver isoladamente.

Ao afirmar que a cultura de um povo é um tesouro inestimável devemos ter em conta que estamos falando da própria vida desse povo. É o espírito de um grupo que pode ser materializado nos seus objetos, arquitetura, pintura e outras formas de concretude, tanto quanto nos seus conhecimentos, lendas, mitos, religião e demais elementos imateriais com os quais expressam a sua compreensão singular da vida.

Apenas a cultura é capaz de explicar a própria cultura.
Edmario Nascimento da Silva